sábado, 8 de janeiro de 2011

A Fotografia como recordação

 Keith Thomas e Robert McPherson
Keith Thomas e Robert MacPherson
Todos sentimos necessidade de gravar a imagem do mundo que nos rodeia, dos familiares e amigos com quem privamos, dos sítios que visitamos e onde vivemos.
Foto de  Keith Thomas
   Dois médicos escoceses foram precursores neste domínio, embora trabalhando em lugares e com fins diversos. Um deles foi o Dr.Keith Thomas  (1827-1875), ginecologista, que durante três anos fotografou a cidade onde vivia, tirando cerca de 220 placas antes de se retirar em 1856 por razões de saúde e do interesse que os seus doentes lhe mereciam. 
Certamente influenciado pela pena de um dos seus conterrâneos que escrevera “o verdadeiro ar de Edimburgo é devassado por fantasmas” conseguiu captar essa atmosfera nas suas imagens, usando a sua câmara para modular a realidade. Keith foi também um dos primeiros fotógrafos a usar a sobreposição de imagens no mesmo negativo. Edimburgo constituía um excelente cenário para a sua sensibilidade com as suas pedras negras, o claro escuro das paisagens, o silencio das ruas… Tudo isto Keith conseguiu gravar em belas imagens que ainda hoje são admiradas. Com simplicidade atribuía o sucesso das suas fotografias ao facto de ter a paciência de esperar por condições propicias de iluminação, limitando o ato de fotografar a apenas algumas semanas no verão e, devido aos seus afazeres profissionais, em horas pouco habituais: antes das 7 da manhã ou depois das 4 da tarde, “A luz é nessa altura mais suave, as sombras compridas e os cinzentos que tingem a fotografia mais perfeitos e agradáveis”.
Keith Thomas  - Mulher em Doorway

   O outro fotógrafo foi o Dr Robert McPherson (1811-1872), cirurgião de renome, que apaixonado pelo estudo da história da Arte, vai viver para Roma em 1840, abandonando o bisturi pela paleta de pintor e pela atividade de antiquário. Nesta faceta da sua vida descobriu várias obras desaparecidas que foi adquirindo, nomeadamente um Miguel Ângelo que hoje está na National Gallery de Londres.
  Em 1851, é visitado por Keith que o convence a usar a máquina fotográfica para fixar as riquezas arquitetónicas da cidasde. As suas fotografias foram bastante divulgadas e os postais ilustrados que correram mundo atraíram bastante turistas a Roma. McPherson foi o primeiro fotógrafo a ser autorizado a fotografar as esculturas do Vaticano, de que publicou um catálogo em fins de 1863. Os negativos eram de grandes dimensões, o que obrigava a longas exposições. Segundo as suas palavras “Para uma paisagem distante com boa luz, cinco minutos, é suficiente, mas para objetos mais próximos são necessários de dez a vinte minutos e em alguns casos em que a luz é deficiente, por vezes a exposição é de mais de duas horas ou até, num ou noutro caso de um ou dois dias…”
   Mais conhecido pelas fotografias de Roma, McPherson fotografou também Perugia, Assissi e Tivoli. As suas imagens eram verdadeiras obras de arte, testemunhos da realidade, mas foi perseguido pela inveja gerada entre os círculos fotográficos da época. 
Robert McPherson - Queda de água-Tivoli, 1857


   Um crítico chegou a acusá-lo de «falta de precisão matemática»!. Só depois da sua morte a importância da sua obra foi reconhecida. O valor incalculável do levantamento gigantesco de milhares de fotografias sobre a riqueza artística de Roma foi reconhecido num artigo publicado no “Art Journal” onde dizia “ McPherson fotografou Roma com tal pormenor que a pintura nunca poderá pensar alcançar tal perfeição…na luz e sombra destas ruínas reside um sentimento que só a Fotografia consegue captar”.
   Essa mística dos lugares e das pedras, a necessidade do artista fotógrafo ultrapassar a simples captação da realidade do mundo que o rodeia, foram o elo comum entre estes homens que gravaram com amor os locais onde viveram.
Robert McPherson - Templo deVesta Tivoli, 1858
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

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