segunda-feira, 14 de novembro de 2011

MOVIMENTOS ARTÍSTICOS - SURREALISMO


 

 SURREALISMO
 
 Com raízes profundas no dadaismo e na pintura metafísica, o surrealismo foi por excelência a corrente artística moderna da representação do irracional e do subcinsciente. 
 Considerado como um dos fundadores e principal expoente do surrealismo, André Breton influenciado pelas ideias de Freud, defendia uma arte em que era dado ao inconsciente o principal papel como forma de expressar a realidade subjetiva do artista.
   A livre associação e a análise dos sonhos, métodos da psicanálise freudiana, foram a base dos procedimentos do surrealismo.
Sigmund Freud

   O primeiro manifesto surrealista foi escrito por Breton em 1924 dando a conhecer através dele uma nova maneira de compreender a “arte” baseada no “automatismo psíquico”, segundo o qual pretendia demonstrar um “estado puro” em que a transmissão verbal ou escrita ou por outro meio, do funcionamento do pensamento era feita sem controle da razão e desprovida de qualquer preocupação estética ou moral.
André Breton

   Nele propõe o restauro dos sentimentos humanos e do instinto como ponto de partida para uma nova linguagem artística. Para tal o homem teria de ter uma visão totalmente introspetiva de si mesmo e encontrar um ponto onde as realidades internas e externas fossem percebidas de um modo totalmente isento de contradições.
   Segundo Breton foi ele e o escritor Soupault que deram o nome de “surrealismo” a este novo movimento e modo de expressão em honra de Guillaume Apollinaire.
  Neste manifesto são enumerados os princípios do movimento surrealista tais como o a isenção da lógica e a adoção de uma realidade superior, chamada "maravilhoso”.
  No Surrealismo encontramos um apagamento total ou conflito das categorias estéticas tradicionais como belo, o sublime, o horrível, ou uma valorização destas categorias.
Tal como em Spinoza a “contradição” é a mais importante estratégia surrealista. O surrealismo identifica-se através de valores e estados que são puramente internos e que são lapsos de consciência, sonho, associação livre, estados de êxtase, estados hipnóticos e estados de automatismo. Estes estados não dependem da vontade, são do domínio do inconsciente e do sonho.
   O “sonho” não possui a mesma linguagem do pensamento, representa-se simbolicamente por meio de símiles (comparações) e metáforas (associações). O discurso do sonho é semelhante ao discurso poético. Estas formas de representação (símiles e metáforas) fazem parte dum processo de deslocação. No sonho existe uma compactação do tempo e do espaço, tudo e todos podem viver ao mesmo tempo no mesmo sítio. Passado e presente, vida e morte.
Manifesto do Surrealismo

   Para compreender o surrealismo temos duas noções que são o “automatismo” e o
“maravilhoso”. Foi André Breton que em 1924 introduziu a noção de maravilhoso pela primeira vez no seu manifesto. Para ele o maravilhoso assenta em dois princípios: na beleza compulsiva e no acaso objectivo. A beleza compulsiva aparece em 1928 na novela “Nadja” de Breton e o acaso objectivo nas novelas “Les vases comunicants” (1932) e “L’amour fou” (1937). Estes conceitos embora não nomeados ou referenciados, são hoje utilizados na produção artística. Para Aragon e Breton, o maravilhoso é ambíguo e indiscernível, não se sabe se é objectivo ou subjectivo. É algo que encanta os surrealistas não pela sua presença mas pela sua estranheza que resulta duma deslocação envolta em contradição. É a “inquietante estranheza” de Freud, e nela encontramos duas instâncias: Na primeira o maravilhoso como beleza convulsiva, que é uma estranha confusão entre o animado e o inanimado, entre a vida e a morte. Na segunda o maravilhoso como acaso ou repetição que se torna objectivo quando as circunstâncias se mantêm, como na associação de objectos por analogia indecifrável (Brassai). A repetição nos casos patológicos de histeria, ecolalia, etc. Há filmes que ilustram os tratamentos da histeria feitos por Charcot em 1919. Douglas Gordon utiliza também este tipo de filmes.

   Partindo da ideia de “tábula rasa” para definir modernidade, o surrealismo não é moderno porque recupera situações históricas como a herança medieval do “maravilhoso” e do “grotesco” que é aquilo que não se pode nomear, é ambíguo e indefinido, é uma categoria estética da contradição. Assim, o surrealismo embora representando a vanguarda, não é moderno porque não opera uma rotura em relação ao passado, recupera-o. A ideia de modernidade liga-se por seu lado à ideia de revolução que aparece primeiro introduzida pela física e astro-física a propósito da mobilidade dos corpos celestes segundo Galileu. Mais tarde o segundo momento é o da revolução francesa a partir da qual tudo é alterado na sociedade desde a nomenclatura dos meses aos horários laborais e de refeições e à moda. Um terceiro momento foi a revolução russa que se liga ao construtivismo e ao futurismo de Maiakowsky. O “maravilhoso” é um termo que é duplo de “miraculoso” .O miraculoso afecta a sensibilidade duma maneira verdadeira mas tem origem divina. O maravilhoso afecta a sensibilidade duma maneira verdadeira mas não tem origem divina.

   A procura do maravilhoso tem a ver com a 1ª e 2ª Guerras Mundiais e as suas memórias. Para Breton é necessário reencontrar o encantamento (o maravilhoso) face às vicissitudes da guerra. Aos surrealistas não interessa o miraculoso, o divino, mas a essência da origem do mundo. Interessam-se também pela alquímia e pelo método analógico, pela procura de semelhanças. A alquímia parte dum processo de metamorfose interior que tem a ver com a memória colectiva.

   O segundo Manifesto do Surrealismo foi publicado em 1930, e tratava diretamente dos acontecimentos que se sucederam após a publicação do primeiro manifesto, e do esclarecimento da posição política e dos princípios surrealistas. A cumplicidade com os comunistas, e a desconfiança destes e a possível traição que pode ter acontecido por parte de membros que se diziam adeptos do surrealismo, são assuntos tratados nos textos.



“É vital que o homem se passe, de armas e bagagens para o lado do homem”
“Será preciso começar por retirar da guerra todos os seus títulos de nobreza”

   Estas frases foram extraídas de “Arcano 17” texto escrito em 1944 por André Breton, enquanto assistia à libertação de Paris da dominação nazi.


Robert Capa-- A alegria dos franceses na liberação de Paris.
  26 de agosto de 1944



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