A percepção é o acto básico da mente, em que estão envolvidos dois aspectos principais, o sujeito e o objecto ou acontecimentos (dos quais fazem sempre parte os objectos).
O objecto é externo e está normalmente separado da mente embora as lembranças e associações que remetem para o objecto façam parte dos dados memorizados por nós.
É para o objecto, seja ele de que natureza for, que converge a nossa percepção, que é traduzida em estímulos e sensações captados pelos sentidos: visão, tacto, audição, olfacto, paladar, etc. Mas é a percepção visual que interessará analisar em primeiro lugar.
O campo de visão apreende normalmente um conjunto de objectos e não um só, o que transforma a percepção num acto de discriminação. O cérebro recebe assim a reflexão de objectos que deixam as suas marcas que poderão mais tarde ser «relembradas» pela mente que tem a capacidade de as reproduzir. Estes vestígios do conhecimento que temos do objecto irão completar pela sua relevância o modelo exigido, através de processos de associação. Esta associação liga um acto presente de percepção a outros do passado que estão armazenados na mente e que são relembrados pela memória, mas nem sempre esta associação é directa e consciente, por vezes provém de elementos escondidos na mente inconsciente.
Os fenómenos perceptivos são normalmente vistos segundo três atitudes ou pontos de vista da psicologia, que se ligam tradicionalmente ao estudo fisiológico, à teoria gestáltica e à teoria behaviorista.
Do ponto de vista fisiológico existe uma tentativa de reduzir os fenómenos da percepção aos mecanismos neuropsicológicos. Do ponto de vista gestáltico dá-se ênfase às forças centrais hipotéticas, no sentido de abranger um vasto campo de fenómenos perceptivos. Do ponto de vista behaviorista salienta-se o papel da aprendizagem no comportamento perceptivo. Estes três pontos de vista não se excluem uns aos outros na compreensão da percepção mas completam-se.
Embora os pontos de vista fisiológico e behaviorista sejam importantes, não são os que mais importa focar agora, sendo antes o que se relaciona à «forma» (gestalt) o que interessa mais à percepção estética.
Max Wertheimer |
A teoria da Gestalt é baseada nas investigações e textos produzidos por Max Wertheimer, Kurt Koffka e Wolfgang Kohler que concluem que as partes são definidas pelo todo e que toda a experiência, incluindo a experiência estética, está relacionada com certas estruturas básicas que não podem ser subdivididas.
A Gestalt opõe-se à ideia de «empatia», ou seja, sustenta que nós não projectamos na obra de arte as nossas qualidades estéticas e emocionais, mas que são essas qualidades que lá se encontram à nossa espera.
Wolfgang Kohler |
Segundo Koffka, a percepção é artística. “ Sob o impacto de um mosaico de estimulações que invadem as retinas dos olhos, o sistema nervoso do organismo produz processos de organização de modo a que o modelo produzido seja o melhor possível nas condições existentes ( a «boa-forma» ) ... A percepção tende para o equilíbrio e para a simetria; ou de outra maneira, o equilíbrio e a simetria são características perceptuais do mundo visual que serão compreendidas, sempre que as condições exteriores o permitirem; quando assim não é, o não equilíbrio, a falta de simetria, serão experimentados como uma característica de objectos ou de todo o campo, juntamente como uma necessidade sentida de melhor equilíbrio. “ A estética é pois considerada como um factor de sentimento na percepção conjuntamente com outros processos mentais, ou seja “ Uma disposição para sentir a perfeição de um acontecimento experimentado como sendo certo e adequado, constitui aquilo a que temos chamado o factor estético da percepção. “ (segundo Koffka)
“ Toda a graça e movimento e harmonia da vida - a disposição moral da própria alma – são determinadas pelo sentimento estético, pelo reconhecimento do ritmo e da harmonia. (...) “A ausência de graça, de ritmo e harmonia está intimamente ligada a um mau estilo e a um mau carácter.” (Platão)
A percepção estética não se limita apenas ao que o espectador vê na obra de arte, mas existe antes da obra existir, ou seja, é o artista que em primeiro lugar percepciona esteticamente a obra.
Perante a tela nua, o pintor antevê mentalmente o que nela irá aparecer ao seu olhar e aos demais olhares a que será exibida, embora nem sempre o resultado final seja exactamente o que foi pensado no início, pois a obra vai surgindo através da sua estrutura e das forças e tensões recíprocas das linhas, manchas, formas e cores que se vão construindo e sugerindo umas em relação às outras. A obra vai-se desenvolvendo através do aparecer e desaparecer, do construir e anular, do fazer surgir, do apagar e do refazer constantes, dos acidentes ou incidentes até que por fim se dê por terminada.
A experiência estética comporta em si duas vertentes, a emocional e a perceptiva (dos sentidos) que se completam e que nos ajudam a compreender a obra de arte. É a experiência da compreensão que normalmente referimos quando analisamos uma obra e a fruímos esteticamente. A emoção confunde-se então muitas vezes com a compreensão, remetendo-nos para campos diversos como a reflexão ou o pensamento. Este modo de nos relacionar-mos com os objectos e o mundo que nos rodeia, reporta às origens da metafísica de Platão que, segundo ele, estava dividido em dois campos, um o da tranquilidade e dos sentidos, no qual não existe um conhecimento verdadeiro, mas uma “opinião” (do domínio da “doxa”) o outro é o do conhecimento verdadeiro, da certeza, da ciência, das ideias, (ou formas) é o campo intelectivo.
Para se entender o que é uma experiência estética têm necessariamente de ser referenciadas algumas categorias essenciais como a forma, a metáfora e o sentido que estão intimamente relacionadas.
Quando se pensa numa forma, temos sempre a sensação de que a forma dum objecto artístico existe como substituição para uma ideia, porque estamos sempre à espera de encontrar um sentido. Portanto a forma é um processo de substituição de sentido, ou seja, é algo que é um processo de substituição para uma ideia, porque estamos sempre à espera de encontrar um sentido. A forma é um processo de substituição de sentido, ou seja, é algo que é substituído por aquela forma que é uma metáfora de algo. O processo artístico é por isso um jogo constante de presenças metafóricas de substituição de sentidos. Assim, o processo de produção de sentidos é uma articulação e remissão entre sentidos e referências de sentidos, é um processo metafórico. Tanto na arte como na linguagem, não existem sentidos literais, porque ao falarmos, também falamos de coisas que ilustram referências a outras coisas.